E O LEITINHO?

Um comentário do Willian, no post anterior, me fez lembrar de uma história sobre serviços de manobristas:

Uns dois anos atrás, saímos para jantar com um casal de amigos. O restaurante (que não existe mais) ficava na rua da Consolação, em São Paulo.

Chovia uma barbaridade e a inclinação da rua criou uma onda que tomou conta de metade da calçada. O manobrista percebeu que era impossível descer do carro, e pediu para que eu subisse na guia rebaixada em frente ao imóvel vizinho.

Assim fiz, o cara se aproximou com um guarda-chuva e acompanhou minha mulher até a porta. Eu pulei rapidamente, levei uma água considerável, mas cheguei vivo. Lembro até hoje do estado do tíquete do carro, quase despedaçando de tão molhado.

Muito bem. Na hora de ir embora, ainda chovia. Levei o tíquete para o manobrista e fiquei esperando embaixo do guarda-sol. Meu carro chegou, minha mulher entrou e fomos para casa.

No dia seguinte, pela manhã, o carro estava ralado acima do paralama traseiro, do lado esquerdo.

Era uma ralada bem bonita, ainda com fragmentos brancos do que devia ser uma mureta ou uma coluna. E o mais sensacional: alguém tinha tentado “dar um tapa” no local, para diminuir o estrago. Marcas circulares, semelhantes às de um pano sujo, ficaram ali.

Reconstituí a cena do crime: eu abri a porta para minha mulher e dei a volta no carro, pela frente, para entrar. Estava incomodado pela chuva e nem olhei se o carro estava inteiro.

O serviço custava R$ 9,00 (barato, perto do que se cobra hoje), valor na medida para estimular a caixinha de 1 real ou aquele “tô sem troco, campeão”.

Mas o manobrista que trouxe meu carro foi mais requintado. Perguntou se eu ia deixar “o leite das crianças”. Deixei.

Sim. O cara ralou meu carro, tentou esconder, não me contou e ainda levou 1 real.

Liguei para o restaurante. Ao ouvir o ocorrido, prontamente, a pessoa que me atendeu disse que o serviço era terceirizado. “O senhor quer o telefone da empresa?”

“Não, quero o telefone da dona do restaurante.” Falei com ela e tudo se resolveu.

Hoje, quando o manobrista dá aquela geral no carro para ver se tem algo errado, sinto mais firmeza. Mas como respondi ao Willian, não há opção.

Estacionar na rua, longe da porta, é viver (ainda mais) perigosamente.

4 Responses to E O LEITINHO?

  1. André Trindade disse:

    A revista Época fez uma matéria sobre os valets de SP, e teve de tudo…. até uma subida na calçada que estragou uma roda e o gerente alegou depois que já estava com defeito.
    Você chegou a ver essa matéria?
    Ótimo post, esses serviços são vergonhosos. Pior que isso é só nos estádios de futebol. Mas ai já não dá nem pra reclamar mais, só parando de ir mesmo…

    Abraço!

  2. Willian Ifanger disse:

    Eu questionei isso a você no comentário do post anterior exatamente por ter visto esta matéria da revista Época (estava tentando lembrar onde tinha visto, obrigado André Trindade). Fazia tempo que era pra te perguntar.

    Na verdade eu não li a matéria, eu vi um videozinho que fizeram deixando uma câmera escondida dentro do carro. Um “show” dos manobristas.

    Pra mim o serviço de valet, principalmente em estabelecimentos sem estacionamento, é uma espécie de flanelinhas legalizados.

    E fez bem mesmo em ter ligado pro dono do restaurante. Melhor ainda que ele resolveu.

  3. Marcel Souza disse:

    Aqui em Campinas a situação não é muito diferente… Desde coisas “sumirem” do carro, até o carro voltar com arranhados, riscos etc. E realmente o preço não ajuda… Mas concordo que ainda acaba sendo a opção “menos pior”.

  4. André Luis disse:

    Deixar o carro nas mãos desses “manobristas” é brincar de roleta russa.
    Quando não raspam o carro, corre-se o risco de ter algum pertence furtado. E ai é mais complicado para acertar tudo rapidamente com o restaurante que contrata o serviço, a própria empresa de valet e o BO.
    Particularmente, só uso o serviço em último caso, apesar de nunca ter tido nenhuma experiência ruim.

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