UM JOELHO RUIM

Eu sei que a ideia é não escrever sobre esportes aqui.

Mas é que 1) vocês vão entender minha intenção, e 2) tudo está interligado.

Como já respondi no espaço de comentários, uma das razões que me fazem correr é poder comer o que gosto, na quantidade que quero.

Lógico que antes disso tem a importância de cuidar da saúde, evitar problemas no futuro, captar todos os benefícios de uma vida ativa.

Tem também o aspecto “terapêutico” de uma atividade física primordialmente solitária, que obriga o corredor a travar longas conversas com a própria consciência, processo que resulta na solução de probleminhas cotidianos e, muitas vezes, em boas ideias.

A tal oxigenação do cérebro é capaz de nos surpreender.

E mesmo que aquele momento sirva apenas para colocar a cabeça no “piloto automático”, já vale a pena.

Eu corro há cerca de dez anos, nunca busquei orientação profissional (sem contar o que li por puro interesse no tema) e nunca tive nenhum problema médico decorrente da prática do esporte.

Faço um check-up anual, no qual incluo um teste de esforço para saber se o coração vai bem, e é isso.

Musculação preventiva? Para quê, se nunca senti nada nas articulações, ou nas costas? Fora que o ambiente de academia, definitivamente, não é para mim.

Teimosia pura, insistência no erro, burrice, chame do que quiser. Era evidente que, um dia, algo aconteceria.

Não sei quando, como ou por quê. O fato é que há uns cinco meses, meu joelho direito “enferrujou”. Parecia uma engrenagem sem lubrificação, velha, condenada a ser substituída por algo mais moderno e mais eficiente. Que bom seria…

Não vou chateá-los com o padrão da dor que eu sentia, ou como foram as consultas médicas. A preocupação central, mais grave a cada semana, era que eu estivesse prestes a aumentar a estatística das “pessoas que não podem correr por causa dos joelhos”.

O que teria forte, e indesejado, impacto nos meus hábitos alimentares.

Felizmente, não tenho tendência a engordar. Creio que herdei da família de meu pai um tipo físico longilíneo (1,86m, 75 kg), típico daqueles caras que podem usar o mesmo terno por 40 anos. Mas é claro que uma dieta irresponsável pode estragar tudo.

O que acontece comigo é uma “expansão da linha de cintura”. Algo esteticamente ridículo, que me incomoda demais.

Sofro com essa transformação em coberturas internacionais mais longas, em que as longas horas de trabalho impedem que se coma/durma bem. Não há tempo para exercício e, se houvesse, não seria muito vantajoso por causa do excesso de pizza e do pouco descanso.

Nessas situações, desenvolvi uma tendência a ligar o botão do “dane-se” e deixar de me importar com o que como. Tipo “não estou conseguindo correr mesmo, por que dizer não ao sexto donut do dia?”

Adotar essa regra para qualquer momento em que não posso me exercitar foi, naturalmente, um pulo.

Durante os quase dois meses (e 20 sessões de fisioterapia) em que fiquei parado, comi como um psicopata. Some-se a isso a dúvida se voltaria a correr como antes, e mais maionese, por favor.

Terrível.

Mas este post é para comemorar o fato de que, liberado para começar o longo caminho de volta, estou correndo sem dor há duas semanas. Ainda tenho muito trabalho pela frente, mas a sensação é ótima.

Tão importante quanto, minhas refeições estão mais inteligentes e mais saborosas.

16 Responses to UM JOELHO RUIM

  1. Anna disse:

    Fico feliz que tenha melhorado do joelho e tenha voltado a correr. É a máquina, André, que para um pouco. Outro dia num episodio no metrô que parecia estouro de boiada, no dia 22 de dezembro, pós-inauguração de General Osório, na Glória, onde trabalho, no empurra-empurra machuquei o braço e não percebi que machucaram meu joelho esquerdo. Só vi, na viagem, quando ele ficou inchado por 4 dias. Fiquei morrendo de medo ser lesão de menisco e ter que operar, mas graças a Deus, tudo passou. Tenho muia disposição, mas saber que meus joelhso não são os mesmos de quando eu tinha 25 anos, me incomoda muito. Que bom que você ficou bem e não o imagino fora de forma pelo seu biotipo. Abraço, Anna

  2. Quando li “joelho ruim” e “interligado”, não sei por que, mas lembrei imediatamente do Ronaldo, o Fenômeno. À medida que fui lendo o texto, tive medo por você (expansão da linha de cintura? Oh, não! Só falta ser contratado pelo Corinthians…) mas felizmente há um final feliz.
    Sinceramente, prefiro mil vezes pedalar a correr, que realmente força os joelhos. Mas não faço uma coisa nem outra, o que acaba sendo mais perigoso que um joelho ruim, ou ser o Ronaldo! Um abraço!

  3. Filipe Lima disse:

    Tive sérios problemas no joelho esquerdo após um acidente durante uma partida de futebol há 6 anos.

    Desde então, correr é a única atividade que eu consigo fazer sem sentir dores no local, por ser em linha reta (corro na praia). Qualquer coisa que exija movimentos laterais, sinto meu joelho.

    Ainda quero fazer fisioterapia, apesar de tanto tempo desde o acidente. Você recomenda a fisio, então?

    Abraços

  4. Fernando Rossini disse:

    André, não sei qual o seu relacionamento com o seu fisioterapeuta, e o que foi combinado entre ambos, mas se possível, divulgue o nome dele.

    Digo isto porque após 12 anos (sim, eu esperei todo este tempo para procurar um médico, vivi minha adolescência toda com dores, hoje tenho 24) sentindo dores no joelho, quando estas se tornaram insuportáveis, descobri ter um problema na formação do meu corpo, um posicionamento incorreto da patela.

    Após 2 meses de fisioterapia, consegui, neste final de ano, correr 8 km, e pela primeira vez na minha vida, já que antes dos 12 anos nunca pratiquei nenhum esporte, consegui completar uma atividade física sem dores.

    É impressionante o que esses profissionais fazem pela gente, com um trabalho que envolve paciência, perseverança e uma pitada de psicologia.

    Sempre que posso, digo a todos o nome do meu fisioterapeuta, e recomendo que você faça o mesmo, se puder. Eles merecem!

    Abraços e boa sorte com seu joelho.

  5. Joao Luis Amaral disse:

    No meu caso, se não estiver matriculado na academia, fico preguiçoso. E pagar sem usar me incomoda, então, uso. Não que eu goste do burburinho, ao contrário, sou o primeiro a chegar, logo cedo, treino e saio. Mas acho importante o fator preventivo dos exercícios, principalmente pernas para quem (como nós) curte correr.
    Tive uma luxação no joelho esquerdo em Fev/2008 e perdi bastante massa muscular no quadriceps. Aliei a fisio com acupuntura, o que me ajudou bastante não só na recuperação da articulação, como no equilíbrio como um todo. Mesmo assim, precisei voltar para a academia, para ganhar massa de volta. Trabalho lento, lento… Depois dessa, definitivamente passei a dar mais valor para a preparação adequada antes das corridas (inclusive alongamento).
    O lado bom é que virei o rapaz da meteorologia: sempre que o tempo vai virar bruscamente, o maledeto insiste em latejar… aí sei que é melhor levar uma blusa… he he!
    Grande abraço!
    Joao Luis Amaral

    p.s.: vale a dica, utilizar tênis adequados ao tipo de pisada serve muito também como prevenção às lesoes, para não ‘pisar torto’. Depois de 2 ou 3 modelos testados, acabei me acertando somente com o Mizuno.

  6. Marcos Vinícius disse:

    Amigo,por experiência própria,pois também já penei com antiinflamatórios e fisioterapia com meu joelho:Duvido que seja o esforço da corrida!
    No meu caso,isso aconteceu devido a inúmeras e violentas pancadas no joelho(eu era goleiro de salão,e jogava sem proteção alguma).Sofri alguns meses,mas hoje,felizmente,essa articulação não me atormenta mais.

    Fora o joelho,te invejo por comer de tudo sem engordar.

    E,apesar de vc não falar de esporte aqui,gostaria de te sugerir um tema para o seu blog no Lance!:A valorização dos trintões.Danilo,Iarley,R.Carlos,Tcheco,Dodô,Ronaldo(s)…

    Abraço,querido.

  7. Gustavo disse:

    André,

    É perfeita sua percepção sobre a utilidade intelectual de uma boa corrida. Se a pista for a orla de Salvador,então, as boas idéias são quase inevitáveis.

    Essa sua rápida passagem no estaleiro é uma pequena amostra do que acontece com vários ex-atletas, que mantem o nível de ingestão calórica na aposentadoria, quando a atividade física é bruscamente reduzida. O resultado pode ser visto em algumas mesas (literalemte) redondas dos programas esportivos.

    Boa sorte na recuperação. Um abraço.

    Gustavo

  8. Raphinha Silva disse:

    Fala André!
    Já que entrou no tema, poderia dar algumas dicas de corrida… hehe
    Embora não seja profissional, poderia ao menos mencionar, com mais detalhes, o que vem dando certo pra ti…

    Eu preciso correr. Ou fazer qlqr outra coisa. O máximo que ando é até o carro, estou extremamente sedentário. Por isso surgiram 7 quilos a mais na balança. E agora, estão se concentrando na barriga… hehe

    Em tempo, boa recuperação e que o retorno continue bom!
    Abraços;

    AK: Cara, eu fiquei um bom tempo parado, só fazendo fortalecimento, exercícios de musculação orientados pelo fisioterapeuta. Voltei a correr só quando as dores passaram totalmente, mas estou preparado para lidar com algum probleminha durante o retorno. Ainda estou um pouco distante do que fazia antes (10km em mais ou menos 50 minutos), mas aumentando o ritmo. Até agora, tudo bem. Após as férias, duas decisões serão executadas: vou entrar para um grupo de corrida, para ter orientação profissional. E já sei que a tal “musculação preventiva” é para sempre. É a vida… um abraço.

  9. BASILIO77 disse:

    Estou como o Filipe Lima.
    Posso correr, desde que em linha reta. Não poderia ser bandeirinha.
    Que falta me fazem os ligamentos originais de fábrica, os reconstituídos não são iguais…

    AK, pode ir se acostumando ao ambiente de academia…
    Musculação aliada à corrida, essa é a dica.

    Abraço

    AK: É isso, não tem outro jeito mesmo. Obrigado e um abraço.

  10. Marcel Souza disse:

    André, muito interessante seu comentário sobre o botão “dane-se” para se importar com o que come, com base na falta de exercícios. Comigo tem acontecido a mesma coisa. Desde que parei de me exercitar por absoluta falta de tempo (filho pequeno em casa…) eu reparei que também comecei a comer mal. Não deveria ser o contrário?

    Que bom que suas dores passaram. Agora eu preciso criar vergonha na cara e recomeçar meu “fitness program”.

    1 abraço!

    AK: Deveria ser o contrário, para minimizar o prejuízo. Mas o mais importante é recomeçar, o quanto antes. Obrigado e um abraço.

  11. Alejjandro disse:

    Por isso eu não pratico esportes, é muito perigoso… hehehe…

    Hey, André, suas filhas já “entraram na escola”? Com qual idade você acha que uma criança deve começar? O meu entrou agora, com 2 anos… achei que já estava na hora, até mesmo pelo sistema imunológico…

    Abraço, e boa recuperação!

    AK: É a hora certa, mesmo. Um abraço.

  12. Cleber disse:

    Fala AK, beleza?

    Uma curiosidade: nao rola uma partida de futebol mesmo? Ou o seu contato e so de fora das 4 linhas?

    abs!

    Cleber

    AK: Faz muito tempo que não jogo bola. Muuuuuito tempo. Um abraço.

  13. siamopalestra disse:

    André, eu te entendo completamente.

    A sensação de correr e jogar futebol, para mim, é indescritível. Por isso, imagine como é, aos 24 anos, já ter operado 2x o mesmo joelho por romper o ligamente cruzado anterior (LCA)…

    A cada cirurgia, 6 sem correr e 12 meses sem jogar bola. O inevitável é tentar segurar a boca (e dá-lhe salado + grelhado ao invés de bife a parmegiana).

    Ainda faltam 6 pra voltar aos campos, mas agora em janeiro já corri umas cinco vezes e é sensacional. O parmegiana também voltou!

    A solução, muitas vezes, pode ser nadar – esporte sem impacto e que exercita músculo e ligamentos ;]

    Abrazzos,
    ROJAS.

    AK: Bom retorno. Um abraço.

  14. Pedro disse:

    André,

    Coisa boa que pode voltar a correr. Correr é muito bom. Concordo contigo sobre a preciosa contribuição que é poder “pensar sozinho”.
    Meu dois joelhos me impedem de correr até maio….vamos ver.

    Cara, você já leu o Loucos pela Tempestade?
    Vale o tempo. Eu li quando estava em NY e vi na Folha hoje que já está no BR.

    Grande abraço

    AK: Obrigado pela dica. Um abraço.

  15. Neilor disse:

    Corri com certa freqüência (com trema) por uns 10 anos até começar a sentir dores nos dois joelhos. Condromalácia patelar… Parei, ganhei mais peso. tentei voltar, senti dores, parei de novo, fanhei mais peso ainda. Desisti. Agora, o negócio é caminhada, no máximo…

    Tudo isso pra dizer: faça musculação. É um saco, mas não deixe de fazer a p… da musculação.

    Abraço.

    AK: Decisão tomada. Obrigado. Um abraço.

  16. caio rodriguez disse:

    Andre

    Sofri um acidente de onibus que bateu num outro parado, e fui atendido em hospital publico, e agora dois meses depois ainda não consegui fisioterapia…meu joelho inchou muito, o medico me deixou em observação dizendo que tinha quebrado o pobrezinho mas depois mudou de ideia quando viu o raio x…os remedios que tomei arrasaram com meu estomago…

    acho que nunca mais conseguirei correr pelas ruas do Rio pois as dores ainda persistem, com a batida meu joelho e minha testa ficaram com um pequeno afundamento…como e que a gente paga tantos impostos e ainda tem que enfrentar esse maldito sistema de saude brasileiro que so favorece aos ricos e poderosos???

    Li que hospitais publicos no Rio pagariam multa pela falta de atendimento, pensou em processar a empresa, o hospital por não cumprir a lei, eu deveria ter sido internado por um dia pelo menos, atrofia e joelho é coisa braba sera que eles não sabem?…

    Se eu tivesse sido bem atendido poderia fazer um trabalho de fortalecimento e quem sabe fazer caminhadas? Que adianta ganhar ação e perder o nosso maior prazer, o de correr livremente pela cidade, ao longo de rios e lagoas?

    Um abraço grande, não adiante a gente se cuidar a vida inteira, comida organica, sem sal, nenhum açucar, evitar põluição e encontrar pela frente motoristas que bebem na hora do almoço e ainda dão troco enquanto estão dirigindo..

    Caio.

    AK: Caio, obviamente não tenho como te dizer algo diferente do meu lamento por saber o que aconteceu. Algo que faça diferença para você nesse momento de preocupação e indignação. Gostaria de poder fazer isso. Mas, cara, não deixe de buscar o que estiver a seu alcance para recuperar esse prazer. Se não for correr, que seja caminhar, ou andar de bicicleta… sei lá, alguma atividade que te faça suar e se livrar disso. Com a fisioterapia, seu joelho vai melhorar. Força aí. Obrigado pela visita. Um abraço.

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